Entrevista com Marilia Trindade Barboza

Conviver com bambas faz toda a diferença na vida de uma pesquisadora. Dos livros, muito se aprende. Informações, análises e linhas de pensamento. Da vida, se aprende muito mais. A riqueza da poesia de um pobre sambista, as melodias entoadas por trovadores do morro e a simplicidade daqueles que vivem o samba em sua totalidade nos ensinam que o verdadeiro conhecimento, a real sabedoria, vem das ruas. Das conversas de bar, regadas à cerveja e tira-gosto, dos pagodes que atravessavam dias, noites e madrugadas, dos acordes de plangentes violões e do rufar dos pandeiros, aprende-se muito mais sobre o ritmo quente do samba do que qualquer publicação sobre o assunto.
Marília Trindade Barboza da Silva viveu e conviveu com estes artífices de nossa cultura. Aprendendo, resolveu ensinar. E levou aos livros o conhecimento adquirido fora deles. Para isso, foi preciso quebrar tabus. Sim, pois para a Academia, o samba era um “tema menor”, um assunto que não merecia publicações “sérias”. Mas Marília, além de ser uma acadêmica, é uma sambista e não iria desistir fácil de seu objetivo.
Com o professor Arthur de Oliveira, travou uma fértil parceria, que rendeu frutos saborosos como as biografias de Pixinguinha, Silas de Oliveira e Cartola, além do livro “Fala Mangueira” (com Carlos Cachaça). Sozinha ou com outros parceiros, escreveu obras sobre Dorival Caymmi, Paulo da Portela, Carlos Cachaça e Luperce Miranda, colocando-se como uma das mais importantes pesquisadoras da música popular brasileira.
Marília é brasa. Foi Cartola quem pediu para ela escrever sua biografia. Da intensa amizade, surgiram histórias, afetos e parcerias (compositora “bissexta”, como ela mesma se define, compôs, também, com monstros sagrados do samba, como Nelson Sargento, Nelson Cavaquinho e Carlos Cachaça). Quando morreu, o mangueirense a legou seu acervo e seu violão, o bem maior que possuía - de onde brotaram lindas peças do rico cancioneiro brasileiro.
A pesquisadora, que presenciou e se emocionou com tantas rodas de samba de alto gabarito, onde os protagonistas eram baluartes da música popular brasileira, encontrou nos sambistas do Samba de Terreiro de Mauá a sonoridade de tempos atrás e o respeito ao samba que a Velha Guarda cultivava. Foi lá no Centro Cultural Dona Leonor, onde são promovidas as rodas de samba do projeto, que foi realizada a entrevista para o Programa É Batucada!
À vontade, Marília contou e cantou o samba que viveu. Recordou os bambas do passado, traçou análises e teceu comentários sobre o ritmo mais apaixonante do Brasil. De entrevistadora e ouvinte, passou ao papel de entrevistada, a voz que apresenta aos sambistas do presente, o encanto do passado.

Parte 01



Parte 02

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